sábado, 11 de setembro de 2021

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APRESENTAÇÃO

Aqui vai uma sugestão pra que você faça uma leitura de tudo quanto a História registra a respeito de Maria, desde as promessas no século sete AC. até a primeira metade do primeiro século DC. Acabei de escrever este livro, mas resolvi fazer essa experiência antes de apresentá-lo a você. Você deve supor que levaria algumas semanas ou meses para ler tudo o que foi escrito sobre essa mulher no longo período de setecentos e cinquenta anos.

Se você aceitou o meu desafio, basta que, antes ou depois de ler este livro, você percorra a vida da jovem mãe, lendo apenas as linhas em itálico a ela dedicadas ou consulte os quatro Evangelhos.

Foi o que fiz assim que acabei de escrever este livro. Lendo todas as passagens referentes à Maria em ordem cronológica, isto é, os registros de alguém falando dela, alguém falando com ela e ela mesma falando com alguém ou falando de si mesma, gastei apenas 10 minutos. Resolvi ler apenas as suas falas com outro alguém ou falando de si mesma, sempre marcando no relógio. Gastei apenas 3 minutos! E quando você lê sem o Magnificat, o Canto de Maria, ela fala apenas 20 segundos.

O livro que você vai ler a partir de agora é um comentário breve sobre os 10 minutos mais importantes da vida de uma grande mulher.

ESTRANHA VISITA

Uma bela jovem, talvez entre seus dezoito e vinte anos, tinha se deitado para o sono da noite. Como todas as suas amigas, era simples, vestia roupas simples e descansava sobre uma cama simples. Apesar de sua nobreza de sangue, pois pertencia também à família real, seus pensamentos eram igualmente simples e sem maiores sonhos. Embora, como jovem, devia estar sonhando, dormindo ou acordada, com seu noivo e seu casamento já aliançado, jamais imaginou receber uma visita tão ilustre e tão estranha. À primeira vista, julgou estar diante de mais um belo sonho, mas logo viu que era mesmo o anjo Gabriel quem lhe falava, Salve, agraciada! O Senhor é contigo. E diante do medo que ela sentiu, o anjo continuou, Não tenhas medo, pois tu alcançaste graça diante de Deus. Ficarás grávida e terás um filho e porás nele o nome de Jesus...  Gabriel descreve o Messias como sendo o Filho do Altíssimo Deus, que será rei como Davi e mais que Davi porque o seu reino não terá fim. Maria responde, Isso é impossível, uma vez que sou virgem. O visitante revela que o filho da jovem será gerado pelo Espírito Santo e conclui, Sabe também que tua prima Isabel terá um filho, mesmo na sua velhice e já está grávida de seis meses. Maria encerra o diálogo, Eis aqui a serva do Senhor. Que tudo seja feito conforme tuas palavras.

MAGNIFICAT

Tão logo recebeu a visita do anjo anunciando o nascimento do Messias, Maria, tendo ouvido também do anjo que sua prima Isabel estava grávida do sexto mês de João Batista, subiu pelas montanhas da Judéia e lá foi visitar a prima, prima segunda, por certo, com seu velho esposo, o sacerdote Zacarias.  Após as costumeiras saudações, Maria proferiu o inspirado cântico de louvor, conhecido como o Magnificat.

A minha alma engrandece ao Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Ele se importou com a humilde condição de sua serva
E desde agora, todas as gerações me chamarão de bem aventurada.
Ele tem feito grandes coisas por mim e grande é o seu nome.
Sua misericórdia está sobre todos os que o temem, de geração a geração.
Tem mostrada a força do seu braço e dispersado o orgulhoso no pensar dos seus corações.
Ele tem derrubado os poderosos de seus tronos e exaltado os humildes.
Tem satisfeito os famintos com boas coisas e despedido os ricos de mãos vazias.
Ele tem ajudado seu servo Israel, lembrando de sua misericórdia para com seu povo,
Quando falava com nossos pais, Abraão e seus descendentes para sempre.

DE NAZARÉ A BELÉM

Estranha estrela se movia na direção leste oeste. Parecia uma noite como outra qualquer. Enquanto muitos chegavam, muitos saíam pro censo em sua cidade de origem. Entre aqueles que chegavam a Belém, muito cansada, uma jovem chamada Maria descia de um pobre jumento. Acompanhada de seu bondoso esposo José, ambos de família nobre, pois descendiam de David, o rei que havia nascido em Belém da Judéia. Viajaram de Nazaré a Belém. Curioso que estava para nascer ali na Casa dos Pães. Este era o significado do nome da cidade, Bethléhem. E por que curioso? Porque o Pão da Vida estava nascendo ali.

E por que Belém? O nascimento de um rei em Belém era tudo quanto ninguém poderia esperar. Primeiro, porque se tratava de uma das menores cidades de Judá e do mundo. Segundo, porque a capital de Israel com seu palácio real era Jerusalém. Essa foi a razão por que os reis do oriente se dirigiram para lá, supondo que o Messias tivesse chegado como filho de Herodes e ali estivesse em meio a todo o conforto digno de um verdadeiro príncipe. Não podemos também esquecer que Belém era o lugar escolhido para o nascimento do Senhor,  setecentos e dez anos atrás. É o único caso em que a pessoa escolheu como, de quem e onde queria nascer!

Um lugar para descansar era tudo o que desejava o desconhecido casal. Depois de muito tentar, aceitaram a gentileza de um cocheiro, uma vez que a jovem começava sentir as dores do parto. Enquanto o mundo lá fora nada sabia do grande acontecimento, inclusive os parentes e amigos, sem qualquer conforto, apenas com muito amor e carinho, o Rei dos reis e Senhor dos Senhores, foi humildemente deitado numa manjedoura.

UMA VIRGEM DEU À LUZ

O nascimento virginal era também ignorado por todo o mundo, com exceção do casal, seus familiares e pouquíssimos amigos de confiança. Foi um fato tão sui geris, que até o noivo de Maria havia se esquecido que tal coisa um dia aconteceria. E foi assim que, ao ouvir dos lábios da noiva que estava grávida, o futuro esposo chegou a pensar em terminar em silêncio o noivado, a bem da honra de ambos. Mas voltou atrás em seus devaneios, sendo convencido em sonhos de que tal milagre já estava escrito e proclamado há setecentos anos. O mesmo deve ter acontecido com a família dos noivos, que por algum tempo não se lembraram da antiga promessa registrada pelo profeta Isaías. Não é difícil imaginar o sofrimento por que passou a jovenzinha ao reportar ao esposo e aos pais que estava grávida de um menino. Não havia volta porque já tinha respondido a Gabriel, Cumpra-se em mim a vontade do Senhor.

Devemos levar em consideração que o nascimento virginal não se deu por conta de uma exibição do Criador ou por algum outro simples motivo. Deveu-se ao fato de que o mundo precisava conhecer um libertador que fosse homem perfeito e perfeito Deus ao mesmo tempo. Assim como o primeiro homem foi formado sem pecado, mas agora fez o pecado entrar em todos os seus semelhantes, assim também, não havendo outro exemplar que redimisse o resto da humanidade, o próprio Criador tomou a natureza de todos os seres humanos, mas sem o pecado, para que pudesse resgatar a todos aqueles que assim desejassem. Daí, sabemos que teve de nascer de uma virgem e sem a participação da natureza humana decaída. Poderia ter nascido de uma jovem já casada? Creio que sim, mas ainda sem filhos. Há uma série bem grande de passagens que falam do simbolismo de se dedicar todo primeiro fruto ao Criador. Por isso mesmo a História registra que nasceu ali o primogênito de Maria e o Unigênito de Deus.

Vou fazer aqui uma consideração, que talvez soe estranha ao meu dileto leitor. A palavra hebraica almá, tanto pode significar uma virgem, como uma jovem não necessariamente virgem. Assim sendo, seria bem natural, repito, que o nascimento do Messias tivesse acontecido através de Maria ou qualquer outra jovem casada e não mais virgem. Porém, o nascimento virginal como se deu, além de qualquer significado simbólico, atesta a realidade do poder sobrenatural que acompanhou o acontecimento, sem negar que a geração de um ser humano já foge da nossa imaginação natural, por mais que nos acostumamos a ela.

A LUA DE MEL

Como acontece com todo casal, chegou o dia tão esperado da sua lua de mel. A lua de mel deveria ter acontecido antes da virgem se engravidar, naturalmente em circunstâncias normais, como na vida de qualquer família. Mas no caso de José e Maria, teve que ser adiada para uma ocasião oportuna. O acontecimento certamente teve lugar em Belém, após o tempo costumeiro do resguardo de quarenta dias da esposa. A História sagrada deixa tudo isso bem claro em brevíssimas palavras, ...E casou-se com ela. Porém, não teve relações íntimas com ela ATÉ QUE a criança nasceu... (Mat.1.25). E mais, E deu à luz o seu filho PRIMOGÊNITO...(Luc.2.7). E ainda, Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e SEUS IRMÃOS, Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as SUAS IRMÃS? De onde lhe veio, pois, tudo isso? (Mat. 13.55 e 56).

     Casar e ter filhos era o caminho natural de qualquer família, principalmente para os judeus, para quem gerar muitos filhos era a maior honra humana e sinal de bênção do Céu. A promessa do Messias nascer de uma virgem já havia sido cumprida e a partir daí, tudo aconteceu dentro de seu curso normal. Não há qualquer proibição registrada ou qualquer ordem para que o casal se privasse do sagrado direito do amor.

CORO CELESTE VISITA OS PASTORES

A História, por certo a mais linda do mundo, teve a Terra como palco e os personagens, parte do Céu e parte da Terra. Foi assim que naquela mesma noite, um coro celeste se apresentou aos pastores que guardavam suas ovelhas no campo. O porta voz deles proclamou, Não tenham medo. Trago a vocês uma notícia de grande alegria. Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é o Messias, o Senhor. No mesmo momento, o coro de anjos cantava, Glória a Deus nas alturas e paz na Terra entre os homens de boa vontade. Os pastores formaram um grupo e foram até a cidade conferir se aquelas palavras eram verdadeiras e comprovaram tudo o que tinham ouvido. Maria ouvia em silêncio todo o relato das visitas e guardava tudo aquilo no seu coração, naturalmente ligando a mensagem que tinha ouvido de Gabriel nove meses antes com tudo aquilo que acabava de ouvir. Se José ainda tivesse alguma dúvida a respeito de sua esposa, agora, Maria teria boas provas para dizer, Está vendo, José? Ouviu bem o que os pastores disseram? Agora, você crê em mim de verdade? Talvez até houvesse ainda alguma sombra de dúvida no coração do bondoso marido. Mas sua esposa não faria isso, sabendo com certeza que diversas outras provas ainda estavam por vir

O 8º E O 40º DIA DO RESGUARDO

Oito dias se passaram desde o nascimento do menino em Belém. Muito provavelmente a pequena família estava agora em sua primeira casa alugada na cidade. O oitavo dia era muito importante para uma família hebreia. Perante o Rabino, confirmava o nome da criança e sendo menino, recebia também o procedimento da circuncisão. Ambas as coisas foram feitas. Por isso mesmo, viajaram até Jerusalém, por certo na véspera, e já pela manhã, compareceram ao templo para a esperada cerimônia. O sumo sacerdote perguntou aos pais, Qual o nome do menino? Maria respondeu, Jesus. O sacerdote olhou admirado pro casal, como quem desejava saber o motivo da escolha de um nome tão importante. E escreveu no seu livro oficial. Voltou a perguntar, Onde foi que ele nasceu? José respondeu, em Belém. O homem escreveu, sem espanto, pois qualquer criança pode nascer em Belém, e sem se dar conta que aquele menino tinha de nascer em Belém. Fez então uma terceira pergunta, Qual a tribo de vocês? Maria disse, De Judá, através de Davi. O rabino olhou pro casal com olhos de orgulho diante de estar fazendo o registro de um filho de Davi e escreveu sua tribo com um curto sorriso nos lábios, mas ainda sem espanto, uma vez que não sabia que estava diante do eterno sucessor de Davi.

Chegou agora um dia igualmente muito importante. O quadragésimo dia de vida, hoje correspondente ao fim do resguardo da mãe, quando a criança devia ser apresentada no templo, acompanhado de um sacrifício de acordo com a lei. Trouxeram um par de rolinhas, demonstrando que eram de procedência humilde e de poucos recursos, mesmo sendo de família real.

Duas pessoas muito especiais testemunharam aqueles ritos. Um deles, bem idoso, se chamava Simeão e fez esta estranha oração, provando que sabia, sem ninguém falar, que ali estava o Filho de Deus, Agora, Senhor, cumpriste a tua promessa e já podes deixar teu servo partir em paz, pois já vi com meus próprios olhos a tua salvação, que preparaste na presença de todos os povos. Uma luz para mostrar o teu caminho a todos os que não são judeus e para dar glória ao teu povo de Israel. E diante do olhar deslumbrado de José e Maria, o velho profeta passa a falar olhando diretamente para o rosto de Maria, Este menino foi escolhido por Deus para a destruição e para a salvação de muita gente em Israel. Vai ser um sinal de Deus. Muitos falarão contra ele e assim os pensamentos deles serão conhecidos. E a tristeza, como uma espada afiada, cortará o teu coração, Maria.

A outra testemunha da presença do Messias no templo, foi uma idosa chamada Ana. Tinha ficado viúva aos sete anos de casada e estava agora com seus oitenta e quatro. Estava sempre no templo, jejuando e fazendo suas orações. Como Simeão havia feito, ela também começou a louvar a Deus em voz alta, falando a respeito do menino para aqueles que estavam presentes, como se alguém tivesse contado a ela os segredos do ilustre casal.

VISITA DE REIS

De acordo com os relatos históricos, o filho de Maria e José já devia estar aproximando seus dois anos de idade. Deduzimos assim porque o rei Herodes, depois inquirir dos reis do oriente a respeito da data do aparecimento da estrela, mandou matar todos os pequenos de dois anos para baixo. Na ocasião, a estranha estrela tornou a aparecer e guiou aqueles ilustres visitantes até a casa onde a família estava morando, por certo uma casa alugada. Maria, com toda a certeza, observava muito atenta os presentes que eles entregavam ao menino Deus e o adoravam de joelhos. Eram o ouro, reconhecendo o menino como Rei, incenso, como Sacerdote, e mirra, prefigurando seu sacrifício remidor.

FUGA PARA O EGITO E MORTE DOS INOCENTES

 O rei da Judeia esperou alguns dias pelo retorno dos reis do oriente com precisas informações sobre o local onde se achava o menino. José foi então avisado por meio de um sonho que devia conduzir a Maria e o filho para o Egito. Ele atendeu aquela ordem sem pestanejar e lá foram os três para a terra natal de Moisés. Muito irado com suas visitas por terem voltado por outro caminho e não podendo executar apenas o pequeno príncipe como havia planejado, mandou matar todos os pequeninos com até dois anos de nascidos, tanto em Belém como nos bairros ao redor da cidade. A História registrada pelo grande profeta Jeremias relata que esse trágico decreto seria feito causando muita dor às mães belemitas, Ouviu-se um clamor, uma voz de choro em Ramá. Raquel chorando pelos seus filhos, não querendo ser consolada, pois todos estavam mortos. Ramá é o nome de fundação de Belém, onde Raquel foi sepultada por Jacó. Tendo morrido em Belém ao dar à luz a Benjamim, aparece aqui representando todas as mães sofrendo a perda de seus filhinhos. Já li um artigo sobre um documento, artigo que porei aqui tão logo o localize, falando que foram mortos trinta e sete infantes naquele dia. Fala também de um vizinho que exclama, Como é estranho! Não entendo como um casal tão gentil como aquele nos deixou tão repentinamente e sem se despedir da gente. De fato, a ordem era que saíssem imediatamente, o que eles fizeram no meio da noite.

A VOLTA PARA NAZARÉ

Passado o tempo necessário esperando a morte do velho Herodes, o casal foi avisado em novo sonho que podia retornar à pátria de origem. Desejavam fixar residência na Judéia, talvez com o pensamento de educar o filho na área mais culta do país, considerando que tão elevadas promessas de nobre futuro dificilmente poderiam se cumprir nos recantos desprezados da Galileia. Mas avisados de que Arquelau, filho de Herodes, o havia sucedido no trono, resolveram voltar para sua pobre aldeia de Nazaré, a menos nobre da Palestina. Ali o casal criou o amado filho. Diz a História que foi um excelente filho, obediente aos pais e crescia no físico, na mente e em graça para com Deus e os homens. Com muita razão, cogita-se que ajudava Maria nos afazeres domésticos e o pai na oficina de carpinteiro. Maria, com toda a certeza, era aquela mãe plenamente consciente do futuro do filho e por isso mesmo se encarregava de transmitir os melhores conhecimentos para ele, tanto os clássicos, até onde podia, como principalmente aqueles relacionados com a educação espiritual através da História Sagrada.

ANGÚSTIA PELO EXTRAVIO DO FILHO

Qual a mãe que nunca sentiu o coração quebrado por se perder de um filho ou filha, mesmo que por um instante. Eu e minha esposa tivemos essa triste experiência por duas vezes. Quando levamos nossos três filhos pra visitar os animais da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, o mais velho, nos seus três anos de idade, enquanto a gente se distraía com a entrega dos bilhetes, em segundos saiu de perto, encantado com a beleza e o canto dos primeiros pássaros. Ao darmos pela falta, corremos angustiados e o achamos feliz e tranquilo. Outra vez, nos perdemos do mais novo, quando em Araruama, cidade do Estado do Rio de Janeiro, voltamos a nos distrair por segundos e depois de procurarmos angustiados pelo menino, passando debaixo de uma árvore da praia, ele gritou do alto da amendoeira, Estou aqui, minha mãe!

Imagine, então, como ficou o coração de Maria, um dia depois de iniciado o retorno a Nazaré, quando percebeu que o filho de doze anos não se achava entre os parentes nem com os amigos da caravana? Com seu esposo José, voltou toda aquela distância e ainda sofreram três dias e duas noites, de angústia sem o menino. Finalmente o encontraram no templo, discutindo com os doutores da Lei, com apenas doze anos de sua idade.

Provavelmente, um dos assuntos sobre os quais interrogava os mestres rabinos teria sido  provar que veio como Filho de Deus. Também deve ter argumentado sobre ser filho de Davi.  Como podia ser ele filho de Davi, se o próprio Davi o chama de Senhor? Não conseguia respostas para as suas perguntas, mas a todas respondia com autoridade. Foi nessa hora que seus pais chegam o avistam ali no meio da discussão. Bem ali, o último lugar suposto capaz de encontrar o filho. Aí temos a segunda vez em que Maria aparece dizendo alguma coisa. Filho. Por que fizeste isso conosco? Seu pai e eu, muito aflitos, estávamos te procurando!

A resposta de Jesus é bastante significativa. Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar cuidando dos negócios do meu pai? Pela primeira vez que se sabe, ele toma a iniciativa de cumprir sua missão com independência e autoridade de único Filho de Deus. Não foi um gesto de desobediência, tanto que esse episódio termina dizendo que voltou com eles para Nazaré e era sujeito a eles.  Esse sinal de independência dos pais será apreciado nos dois próximos capítulos.

 UM CASAMENTO EM CANÁ

A mãe do Senhor havia começado a experimentar aquilo pelo qual passam quase todas as mães do mundo. A saída de casa por motivo de casamento ou de trabalho. Jesus acabava de completar seus trinta anos de idade e já se ocupava da escolha dos seus discípulos. Nesse tempo, Maria convidou o filho e seus discípulos para acompanhá-la num casamento de amigos na aldeia de Caná, ali mesmo na Galileia. Uma coisa inesperada aconteceu. Durante a festa, o vinho se acabou, deixando os donos da casa bastante desconcertados. Tão logo tomou conhecimento da situação, a prestimosa amiga chamou o filho e disse, Eles não têm mais vinho! O filho respondeu à mãe, Não é preciso que a senhora diga o que devo fazer... A procura da mãe pelo filho foi uma evidente demonstração de que Maria estava diante da única pessoa que poderia fazer alguma coisa pela família. Por isso mesmo, mesmo diante das duras palavras que recebeu como resposta, humildemente falou aos serventes, Fazei tudo quanto ele vos disser. Depois de cheias as seis talhas d´água, o Mestre ordenou que levassem uma prova para o mestre de cerimônia e este, provando-a, foi até o novo e exclamou, Toda pessoa serve primeiro o melhor vinho e no final oferece o inferior. Mas você guardou o melhor até agora! Esse foi o primeiro milagre público operado pelo Messias.

Fica bem claro que a mãe do Senhor começava a perceber a autoridade do filho sobre as circunstâncias, sobre as pessoas e sobre ela mesma. Suas poucas palavras nos dão o rumo certo do nosso próprio sucesso em tudo quanto decidimos e fazemos, Fazei tudo quanto ele vos disser. No final de sua curta existência humana, ele confirma essa norma de sucesso, Vocês serão meus amigos se fizerem o que eu vos mando... Sem mim, nada podeis fazer.

E devo encerrar este capítulo chamando a atenção para outra particularidade da vida de Maria. Fazei tudo quanto ele vos disser são as únicas palavras de ordem registradas e proferidas pela mãe do Senhor em toda a sua vida. Importante também é notar que a História apresenta a grande mulher fazendo uso da palavra em apenas quatro ocasiões. No seu diálogo com o anjo Gabriel, no seu Magnificat em casa de sua prima Isabel nas montanhas de Efraim, nessa notável frase imperativa do casamento em Caná, e naquela que vimos no capítulo anterior, no templo em Jerusalém.

QUEM É MINHA MÃE?

Veja agora este outro momento bem notável e de muita angústia na belíssima vida de Maria. O filho mais velho mal havia completado o primeiro ano de seu ministério, quando se achava cercado de grandes multidões de pessoas tentando ouvir suas palavras. Foi então que chegou Maria com outros filhos, Tiago, José, Simão, Judas e talvez  uma ou mais filhas, trazendo um coração mais uma vez angustiado. E por que razão estava ela tão aflita? Naturalmente corria notícia por toda parte de que o nazareno estava fora de si. Isso porque não podiam explicar tamanha sabedoria e originalidade com que falava o jovem pregador. Numa situação dessa, pra quem é mãe, nada melhor do que ver o filho com seus próprios olhos e conversar pessoalmente com ele. Mas como não podia entrar na casa onde estava o filho com seus apóstolos, ficou ali pacientemente aguardando ocasião para acalmar o coração acelerado. Uma pessoa se encarregou de forçar a multidão até que pudesse chegar ao Mestre e logo que conseguiu, falou com ele, Sua mãe e seus irmãos estão lá fora e desejam falar com o Senhor. Jesus interrompeu sua fala e respondeu para todos, Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Aí, apontou sua mão para os apóstolos e respondeu para todos os seus ouvintes, Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Porque todo aqueles que faz a vontade do meu Pai que está no Céu, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.

A primeira pergunta que se faz aqui é esta. Por que o filho foi tão indelicado com sua própria mãe? A resposta é que ele não foi indelicado. Apenas aproveitou a ocasião para transmitir um belíssimo ensinamento aos seus ouvintes. A vontade de Deus deve sempre ser colocada acima de todos e de tudo. A segunda coisa que a gente tem vontade de saber é esta. Teria o Messias atendido sua mãe e seus irmãos naquele dia? Mesmo no silêncio da História a respeito do assunto, não temos nenhum motivo para duvidar que o bom filho tenha se apressado em acalmar o coração da amada mãe.

DOR MUITO FORTE E PASSAGEIRA

Pouco depois de sarada pelo filho a profunda ferida do coração de Maria, causada pelos comentários dos vizinhos de que seu primogênito estaria louco, outra ferida se abre em sua alma.

Chegou o tempo da grande festa dos Tabernáculos. Os irmãos de Jesus já haviam enchido os corações de inveja e por isso mesmo perguntaram ao irmão, Por que você não sobe logo a Jerusalém pra exibir seus grandes sinais? Foi apenas a gota d´água, pois a aquelas implicâncias já deviam ser comuns nas conversas dos filhos  em casa, trazendo muita tristeza ao coração da bondosa mãe.

A grande notícia é que aquela dor durou poucos anos, uma vez que, com a humildade e mansidão do irmão, seu sucesso crescente e inigualável, sua morte injusta e sua vitória sobre a morte, tudo concorreu para que seus irmãos se humilhassem e o recebessem como Salvador e Senhor, além de meramente um irmão mais velho. A História registrada, dessa festa para frente, mostra que os irmãos do Senhor verdadeiramente o receberam como o Filho de Deus e aparecem sempre fazendo companhia à mãe, ouvindo, servindo e adorando-o como Deus Filho. 

MÃE AO PÉ DA CRUZ

Após três anos nos quais poucas vezes pôde a mãe ver o filho, como estão sempre falando os artistas de hoje a respeito de seus parentes distantes, Maria estava presente na morte do amado, acompanhada e amparada por uma tia materna, Maria, esposa de Cleopas e Maria Madalena. Antes de entregar seu espírito ao Pai e de dar seu último suspiro, algo muito significativo acontece. Ele chama sua mãe em voz alta, apontando para João, Mãe, este é o seu filho! Do mesmo modo, apontando para Maria, diz a João, Filho, esta é a sua mãe!

Esse detalhe do Monte Calvário, que acabei de recordar, põe em relevo o cuidado de um filho para com sua mãe, o que revela que seu amor por ela foi muito intenso e que os merecimentos dela eram incontestáveis. Mesmo vivendo e trabalhando com aquela autoridade e independência já conhecidas desde os doze anos, o amor do filho pela mãe jamais foi negado ou negligenciado.

Entre os quatro escritores da biografia do Messias, João omite determinados momentos da crucificação, o que provavelmente se explica com o registro da História de que a partir daquele momento, ele a recebeu em sua casa. Supõe-se então que o amado apóstolo se ausentou por certo tempo, o suficiente para conduzir a mãe do grande amigo até sua residência. Fazendo isso, estava cumprindo de imediato a honrosa ordem de cuidar da sofredora mãe. Foi uma mútua e abençoada adoção.

MÃE PRESENTE EM BETÃNIA

Não temos registro de qualquer detalhe da abençoada vida de Maria após a ressurreição do filho. Mas a última vez que a História toca no seu nome é muito relevante. Pelos registros, podemos saber que, quarenta dias depois do sacrifício, lá estava Maria, em Betânia, a um quilômetro de Jerusalém, na companhia de outras quinhentas pessoas, assistindo a apoteótica ascensão do Filho de Deus. Entre eles, estavam também seus filhos e onze apóstolos. Todos eles se reuniam diariamente para oração. Não sabemos explicar todo o significado da presença de Maria no meio daquele grupo tão seleto. Mas podemos ver sua perfeita identificação com os ideais do saudoso filho. Podemos também ler no silêncio da História que lá estava ela fazendo história com muitos amigos. Cento e vinte, que passaram a quinhentos, que passaram a três mil, que passaram a milhões em todo o mundo. Lá estava ela em oração pela igreja que seu filho acabava de fundar. Lá estava ela, humilde, silenciosa, sem pretensão alguma de destaque, poder ou liderança. Sua ambição era ser apenas Maria, a serva, a dulê, do Senhor, como disse a Gabriel naquela inesquecível noite em Nazaré.

CONCLUSÃO

Difícil é imaginar tanta coisa em uma só pessoa, que só teve dez minutos de história. Sete minutos citada pelos historiadores, dois minutos e quarenta segundos de poesia, o Magnificat, e vinte segundos de palavras. Só a eternidade poderá nos mostrar quem realmente foi essa extraordinária mulher chamada Maria.

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